quinta-feira, 19 de abril de 2007

Encontro mobiliza comunidades Guaranis em Viamão

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Crianças indígenas na Escola Indígena Karai Nhe e Katu,
em Viamão - Rio Grande do Sul


O I Encontro com a Cultura Guarani, organizado pela Aldeia da Estiva em Viamão foi um sucesso. O objetivo central foi promover uma reflexão sobre o verdadeiro significado do 19 de Abril, Dia do Índio.

Participaram do encontro representantes das aldeias de Viamão (a anfitriã ESTIVA, ITAPUÃ e CANTAGALO), de Capivari, da Lomba do Pinheiro de Porto Alegre e de Santa Catarina. Estima-se que mais de 300 participantes estiveram na aldeia nos dois dias do evento. Alem das comunidades indígenas, participaram Juruás, como são chamados “os não índios”.

Durante dois dias houve demonstrações típicas da cultura guarani, muita música, dança e ainda torneio de futebol. Houve ainda um importante momento, onde os caciques discutiram temas referentes a acesso a terra, saúde, educação e organização de corais. Um dos momentos mais emocionantes foi o batizado de duas crianças guaranis por padrinhos e madrinhas Juruás.

O Evento contou com apoio da Prefeitura Municipal de Viamão, Ong Maricá, FUNASA, CAMPI, Empresas de Transporte Coletivo Viamão e Palmares, Supermercado Unidão, Bianchi e Oliveira; e Quinta da Estância Grande.


Os Guaranis em Viamão

A relação de um indígena da etnia Mbya Guarani, como os que vivem em Viamão, é diferente de um indígena de uma outra etnia, como os Kaingang, presentes em outras regiões do estado do Rio Grande do Sul.

A questão da mobilidade entre os Guarani é fundamental para se compreender outros aspectos da sua cultura. Eles estão constantemente em trânsito, a convite de parentes, visitas a xamãs, casamentos, etc. Essa característica marcante dos Mbya não é considerada adequadamente na maioria dos processos de demarcação oficial e, portanto, artificial dos seus territórios.

Segundo a antropóloga Maria Inês Ladeira: “[...] O território ou mundo Guarani Mbya, enquanto espaço cartográfico e geográfico, é fragmentado e compartilhado por diferentes sociedades e grupos sociais. Em contraposição, as aldeias ou tekoa – “lugar onde vivem segundo seus costumes e leis” – não podem abrigar outros grupos humanos. O espaço físico de um tekoa deve conter recursos naturais preservados e permitir a privacidade da comunidade.

Entretanto, a fragmentação atual das aldeias, definidas por limites artificiais em função do reconhecimento público e oficial de outras ocupações (tais como fazendas, loteamentos, estradas, projetos de abastecimento etc.), inviabiliza-as enquanto espaço que garanta a subsistência da própria comunidade.

Apesar disso verifica-se, nas diversas aldeias, um modo peculiar de apreensão, construção e organização do espaço, desenvolvido através do exercício social, político, religioso e do manejo de espécies tradicionais.[...]”Em Viamão, são três áreas indígenas:
1) a Reserva Indígena Canta Galo, com 128 pessoas divididas em 27 famílias e numa área de 48ha;
2) a Reserva Indígena da Estiva com 79 pessoas e 17 famílias em 7ha;
3) Aldeia de Itapuã com 14 famílias e 22ha.

Essas áreas são habitadas por indígenas da etnia Mbyá Guarani. É importante notar que a demarcação e regularização das terras indígenas, muitas vezes não dá conta das necessidades desses povos e nem é garantia de sua preservação enquanto grupo e de seus costumes e tradições.

Ainda mais quando faz parte da sua cosmologia (modo de viver) o constante deslocamento, característica também de diversas outras etnias. E esse quadro se complexifica ainda mais se nos basearmos inteiramente em nossa lógica cultural. Se 5ha são suficientes, por exemplo, para assentar uma família no meio rural, é bem possível que isso não seja para uma família indígena.

E a terra tradicional indígena não é qualquer uma, mas aquela que abriga os restos dos seus antepassados, o rio onde é realizada a iniciação dos jovens, a floresta onde possui determinadas plantas utilizadas em seus rituais sagrados, enfim, aquela onde vivem e reproduzem historicamente o seu modo de vida.

Portanto, o simples “assentamento” dessas comunidades em uma área qualquer, não garante a sobrevivência e preservação do grupo e suas tradições, sendo que uma gama de aspectos devem ser devidamente considerados de forma a não desestruturar o grupo.

Jorge Amaro de Souza Borges
jorgeamaro@pmviamao.com.br

quarta-feira, 31 de maio de 2006

Escola Indígena

por Analice Bolzan

Eles eram muitos. Na época do Descobrimento, mais de dois milhões. Hoje, restam 360 mil índios no país, de 219 etnias, segundo o Censo Indígena de 2001. Mas as perdas não são só numéricas. São territoriais e, principalmente, culturais. O índio de hoje que resiste ao contato com o homem branco, isolado no interior do Brasil, ainda consegue manter ilesos seus costumes. Mas aquele que vive perto das grandes cidades, na beira das estradas e até nas reservas, usa roupa de homem branco e troca a oca pela casa de lona ou alvenaria. A falta da caça e da pesca deu lugar à miséria. Mas os costumes ainda resistem. Em uma reserva gaúcha, o concreto não inibiu a família de fazer o fogo como os antepassados; mesmo que, agora, seja na varanda. O português enrolado convive com o guarani.

Hoje, no Brasil, das mais de 1.100 línguas faladas por eles no final do século XV, restaram apenas 180. Mas a Constituição Federal de 1988 reconheceu o direito dos índios e a obrigação da União de manter seus costumes, línguas, crenças e tradições.

No Rio Grande do Sul, na Reserva Indígena do Cantagalo, em Viamão – cidade que faz divisa com Porto Alegre – a escola funciona em um galpão que também serve de centro comunitário. Lá, quinze crianças são alfabetizadas em português e guarani. Eles fazem parte dos mais de 93 mil índios matriculados nas escolas do país.

O Censo Indígena aponta que escolas improvisadas como esta não são poucas. São quase todas rurais, extensões de escolas urbanas, com calendários e currículos próprios. Geralmente, a professora de português veio de uma escola estadual. A de guarani, da própria tribo, com um perfil típico dos quase 4 mil professores indígenas do país : muita vivência e pouca formação.

Até agora, dos alunos da única turma da reserva, só cinco falam português, ainda que com dificuldade. A aprendizagem deve ser feita no ritmo deles, através da realidade de cada lugar. Arlindo Benitez da Silva quer ensinar o que sabe. Nasceu na reserva, estudou nela até a quarta série e na cidade completou os ensinos médio e fundamental. Agora se prepara para ser professor. Aos 22 anos, também aprendeu que falar português pode ser uma forma de autonomia para circular no mundo dos brancos.

www.daleth.cjf.gov.br